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Aceitem o Galvão Bueno!

Publicado: novembro 13, 2011 em Uncategorized
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Na última semana todo mundo ligado ao meio esportivo e do entretenimento só falava em uma coisa: Galvão Bueno vai narrar o UFC na TV Globo. A curiosidade bateu instantaneamente. Muitos já esperavam as gafes e mancadas do tradicional narrador. O assunto inclusive foi parar nos trending topics do Twitter no exato dia em que a sua escolha como anfitrião da programação foi definida.

Chegou o sábado e eis que chegou o momento da luta. Galvão começou chamando os atletas de “Gladiadores do terceiro milênio”. Ok! Mais um bordão. Engraçado, tosco ou bobo?… Não importa, ali parecia que o narrador já seguiria a linha que ele já permeia no futebol e na fórmula 1.

Entretanto, a luta, em si, demorou pouco mais de um minuto. Em um contexto geral, o que se viu não foi um Galvão atrapalhado. Muito pelo contrário. Em certos momentos até parecia entender um pouco do assunto (ou ao menos parecia ter estudado para fazer aquele tipo de trabalho). Errou em algumas nomenclaturas e chegou a dizer que o Cigano aplicou “quase um gancho”. Está errado? Sim. Confundiu jab com gancho. Mas isso não é motivo para esculachar a transmissão, que por sinal, foi muito boa dentro do tempo em que ocorreu.

A lição que fica é: o Galvão é um mito. Você querendo, ou não! O cara soube colocar uma emoção absurda em uma luta teoricamente “comum”*. E isso é um preceito básico da TV aberta. Ele faz o trabalho dele com a maestria que poucos conseguem. É chato? É… Mas é muito mais folclorizado por suas pérolas do que qualquer outra coisa. E tem mais: todos ficaram criticando-o durante toda a semana e garanto que muitos que ligaram a TV hoje esperavam ver fiascos e gafes. Mas não foi isso que vimos. E por fim, conseguiu ser um profissional que toda a emissora sonha: a TV Globo fechou com 18 de audiência contra 6 da TV Record. Disparidade monstruosa. 60 milhões de televisores ligados. Dever cumprido. Emoção à flor da pele e fãs do MMA satisfeitos.

Quem o criticou se encaixa em um dos dois grupos: ou já era um super-master-power (porém pseudo) fã de MMA, e estava acostumado com o Canal Combate – e não quer ver seu esporte ser difundido popularmente –. Ou então já tem por educação criticar o Galvão Bueno onde quer que ele esteja. Pessoa tipicamente influenciável e que vai ao estádio para mandá-lo ir tomar caju para fazer coro na transmissão da TV.

Ainda existe um terceiro grupo que argumenta dizendo que o Galvão interrompeu as palavras do tradicional apresentador do evento, o maître do UFC, Bruce Buffer. Nesse caso, entramos em outra questão. Quantas milhões de pessoas estavam assistindo o evento pela primeira vez? Quem seria o responsável por deixar um cara falando, em inglês, ao vivo, para uma população de 14,6 milhões de analfabetos? Pois bem, isso é mais um preceito básico da TV aberta. Só entra alguém falando em inglês se tiver alguma legenda, ou alguma tradução simultânea. Como não tinha, o jeito era atropelar Bruce Buffer e manter a fala por cima da dele mesmo. Não havia outro jeito.

Resumindo: esse tipo de transmissão para TV aberta é 70% emoção e 30% informação. Não dá para falar ao microfone que fulano finalizou com um katagatame, ou que beltrano aplicou uma guilhotina, ou que sicrano encaixou um triângulo. A audiência (ainda) não conhece esses termos. São informações que teriam que ser passadas ao longo do tempo, e com uma sequência massiva de transmissão, até cair no conhecimento do público. Isso é degradê. Não pode ser aplicado de maneira instantânea. Geraria repulso por parte da audiência.

Está procurando a originalidade das transmissões? Então volte ao Canal Combate. Ele continua por lá. Acontece que a TV Globo visualiza a audiência, assim com Dana White (dono do UFC). E audiência significa dinheiro. A transmissão da TV aberta não pode – e nem deve – mudar por capricho de meia dúzia de fanáticos que não querem presenciar a revolução que o MMA está se tornando.

Se você se encaixa nesse grupo que não gostou do que viu, é bom já ir se acostumando! A tendência é aumentar a quantidade de transmissões. Isso foi apenas o começo. A TV Globo detém o direito de transmitir qualquer evento do UFC que acontece no Brasil e mais três que ocorrem no exterior. Cabe ao critério da emissora decidir qual vai ser transmitido, ou não.

Se a Globo decidir escalar outro narrador na próxima luta, também não faz errado. Eu sou daqueles que torce pela escolha de João Guilherme (narrador do próprio Canal Combate). É um profissional que já acompanha o esporte desde muito tempo e tem cacife para transmitir na Globo. Nesse caso, Galvão já teria feito a sua parte. O cartão de visitas já foi dado. E muito bem dado. Quem discorda volte e leia o 5º parágrafo deste texto.

E fica um aviso aos pseudo-entendidos do MMA: não é porque você sabe o nome de todo mundo da família Gracie; sabe os nomes de todos os golpes e como aplicá-los; ou então conhece o cartel inteiro do Fedor, Cro-Cop, GSP, ou Chuck Lidell; que você é melhor do que os outros que começaram a acompanhar a pouco tempo. Lembre-se que o futebol – que já é um esporte popularizado no nosso país – também possui os entendidos, os torcedores, os palpiteiros, os bairristas, os “sabem-nada” e os simpatizantes. Aprenda a lidar com as diferenças. E repito: acostume-se com isso.

* Quando disse “luta comum” me refiro à disputa de cinturão, que não é um evento que acontece uma, ou duas vezes por ano. Acontece mais vezes, diferentemente de uma final de campeonato de futebol, por exemplo. O confronto do Cain Velazques contra o Júnior Cigano foi uma baita de uma luta, e isso é inegável.